‘Meus pais me levaram um direito humano’
STÄFA – Como jovem adulto Patrick Noordoven de Stäfa soube que festejava seu aniversário durante anos num dia no qual não tinha nascido. A razão para isso é um crime.
Pouco depois do casamento, a mulher foi diagnosticada com câncer. Superou a doença mas depois não conseguiu mais ter filhos. O desejo de ter filhos do casal holandês era grande. Em 1980 a senhora e o senhor Noordoven se tornaram pais de um bebê brasileiro dentro de duas semanas.
No restaurante Frohberg em Stäfa está sentado um senhor esbelto com a tez bronzeada e cabelo curto e negro. O filho adotivo Patrick Noordoven hoje tem 35 anos. Junto com sua esposa, mudou-se para Stäfa e completou recentemente seus estudos na Universidade de Zurique. Nos Países Baixos nunca se sentiu em casa e nunca mais vai ser assim. Associa lembranças negativas demais com sua terra. O jovem conta sua história em alemão com acento holandês. De vez em quando desprende desesperadamente “isto é incrível!”.
Pais calados
Na cidade de Gouda, nos Países Baixos, as pessoas frequentemente perguntavam ao menino de aparência meridional: “de onde você vem?” Ele mesmo se manteve ocupado com essa pergunta ainda mais. “Não tive uma infância fácil” diz Patrick. Quando o jovem quis saber mais sobre sua origem, encontrou resistência. E jamais teve o direito de dar uma olhada em seus documentos que ficaram fechados numa gaveta.
Com vinte anos o filho adotivo decidiu procurar suas raízes no Brasil. Os pais não gostavam dessa idéia. Contudo, queriam tirar o peso de alguma coisa antes de sua partida. “Minha vida girou 180 graus” conta Patrick. Contaram-lhe que não tinha nascido no 18 de fevereiro de 1980, seu aniversário pretenso e que sua adoção não sucedeu conforme as regras.
Entrega de bebê clandestina
No 18 de fevereiro de 1980, 12 dias depois do seu nascimento, o senhor e a senhora Noordoven estavam esperando no banco detrás de um carro com motor ligado perto de um orfanato num subúrbio de São Paulo. Ao volante está sentado um funcionário consular de São Paulo. A gerente do orfanato brasileiro-holandês acerca-se do carro com um bebê enrolado numa cobertinha. O casal abraça o bebê e três dias depois a senhora Noordoven que, inesperadamente, deu à luz a um filho, e seu marido, inscreveram num cartório, o certidão de nascimento como pais biológicos do bebê. Adotaram o Patrick ilegalmente.
A família Noordoven contornou as regras estritas de adoção que estavam estabelecidas até os meados dos anos oitenta, e que impossibilitaram aos demais casais estrangeiros adotar um bebê brasileiro. Graças às suas relações diplomáticas, a família Noordoven conseguiu cumprir o desejo de um filho de maneira rápida e direta.
Busca difícil
Naquele momento, retiraram de seu filho o direito à identidade. Quando um casal se registra como pais biológicos de um filho adotado, retiram-lhe a sua identidade original. Durante uma adoção legal, em contrapartida, é depositado um dossiê do bebê correspondente nas autoridades de adoção.
A adoção ilegal é castigada com uma pena de 5 anos de prisão. Depois de 20 anos, a pena é prescreve. “Apesar disso, tudo é varrido para debaixo do tapete” exclama Noordoven reprovadoramente.
Quando começou a procurar sua mãe no Brasil, em 2001, um caminho difícil o aguardava. Seus pais ficaram calados e somente fizeram um contato. As pessoas envolvidas na adoção ilegal também se calaram. Informantes desnortearam-no de propósito. No arquivo do hospital em São Paulo onde tinha nascido, Patrick encontrou mais que 100 mães possíveis. Cada ano retornou ao Brasil e continuou a sua busca. Em 2011, descobriu sua meia-irmã mais velha. Começou a matar a charada de sua origem.
Noordoven tem duas irmãs mais velhas. A mãe trabalhava como empregada doméstica e não era capaz de prover para todos os três filhos. Vivia junto com a filha mais jovem, a mais velha ficou com a tia. Dela Patrick soube que a mãe tinha voltado varias vezes ao hospital para perguntar por ele, e que muitas vezes chorava.
Vítima do tráfico de crianças
Até 1985 governou no Brasil a ditatura militar. Mulheres que não fossem apoiadas pelo pai do filho deveriam doar seu filho depois do nascimento. Noordoven crê ser uma vítima do tráfico de crianças. Seus pais adotivos doaram ao orfanato uma soma generosa. Enviaram até mesmo dinheiro para a hospitalização e o cuidado médico da mãe.
Para a doação, os pais receberam um recibo, porém a gerente do orfanato no Brasil confirmou ao Patrick que esse montante nunca tinha chegado ao orfanato. Segundo suas pesquisas a segurança de saúde brasileira assumiu os custos médicos da mãe. Fazer perguntas à mãe, Patrick já não pode porque ela faleceu em 1985. Com os pais adotivos, não está mais em contato. Depois de o responsabilizarem numa carta por sua situação difícil, eles cortaram a relação. “Me levaram um direito humano”.
Patrick não pode aceitar que a muitos adotados ilegais lhes foi causado tanta iniquidade porque pais como seus responderam apenas com silencio de gelo. Com sua ONG Brazil Baby Affair (veja a caixa de texto) Patrick apoia adotados ilegais. Ele ainda busca seu pai.
Bettina Zanni
Caixa de texto: Apoio para adotados ilegais
No final dos anos 70 e no início dos anos 80, numerosos casais da Europa e dos EUA adotaram bebês brasileiros ilegalmente. Pelo nome de Brazil Baby Affair a polícia holandesa descobriu, em colaboração com a polícia alemã, as adoções ilegais. A ONG Brazil Baby Affair, fundada em 2014 por Patrick Noordoven, com sede em Zurique apoia brasileiros ilegalmente adotados em todo o mundo e oferece ajuda às famílias originais. A associação tem o foco em pessoas que foram adotadas antes de 1999 no Brasil, e foram registrados como filhos biológicos dos pais adotivos nos países de origem deles.
Patrick Noordoven trabalha à base voluntária. Para que os clientes não precisem pagar mais eles mesmos os serviços, atualmente está procurando fundos e doadores.
‘Meus pais me levaram um direito humano’
STÄFA – Como jovem adulto Patrick Noordoven de Stäfa soube que festejava seu aniversário durante anos num dia no qual não tinha nascido. A razão para isso é um crime.
Pouco depois do casamento, a mulher foi diagnosticada com câncer. Superou a doença mas depois não conseguiu mais ter filhos. O desejo de ter filhos do casal holandês era grande. Em 1980 a senhora e o senhor Noordoven se tornaram pais de um bebê brasileiro dentro de duas semanas.
No restaurante Frohberg em Stäfa está sentado um senhor esbelto com a tez bronzeada e cabelo curto e negro. O filho adotivo Patrick Noordoven hoje tem 35 anos. Junto com sua esposa, mudou-se para Stäfa e completou recentemente seus estudos na Universidade de Zurique. Nos Países Baixos nunca se sentiu em casa e nunca mais vai ser assim. Associa lembranças negativas demais com sua terra. O jovem conta sua história em alemão com acento holandês. De vez em quando desprende desesperadamente “isto é incrível!”.
Pais calados
Na cidade de Gouda, nos Países Baixos, as pessoas frequentemente perguntavam ao menino de aparência meridional: “de onde você vem?” Ele mesmo se manteve ocupado com essa pergunta ainda mais. “Não tive uma infância fácil” diz Patrick. Quando o jovem quis saber mais sobre sua origem, encontrou resistência. E jamais teve o direito de dar uma olhada em seus documentos que ficaram fechados numa gaveta.
Com vinte anos o filho adotivo decidiu procurar suas raízes no Brasil. Os pais não gostavam dessa idéia. Contudo, queriam tirar o peso de alguma coisa antes de sua partida. “Minha vida girou 180 graus” conta Patrick. Contaram-lhe que não tinha nascido no 18 de fevereiro de 1980, seu aniversário pretenso e que sua adoção não sucedeu conforme as regras.
Entrega de bebê clandestina
No 18 de fevereiro de 1980, 12 dias depois do seu nascimento, o senhor e a senhora Noordoven estavam esperando no banco detrás de um carro com motor ligado perto de um orfanato num subúrbio de São Paulo. Ao volante está sentado um funcionário consular de São Paulo. A gerente do orfanato brasileiro-holandês acerca-se do carro com um bebê enrolado numa cobertinha. O casal abraça o bebê e três dias depois a senhora Noordoven que, inesperadamente, deu à luz a um filho, e seu marido, inscreveram num cartório, o certidão de nascimento como pais biológicos do bebê. Adotaram o Patrick ilegalmente.
A família Noordoven contornou as regras estritas de adoção que estavam estabelecidas até os meados dos anos oitenta, e que impossibilitaram aos demais casais estrangeiros adotar um bebê brasileiro. Graças às suas relações diplomáticas, a família Noordoven conseguiu cumprir o desejo de um filho de maneira rápida e direta.
Busca difícil
Naquele momento, retiraram de seu filho o direito à identidade. Quando um casal se registra como pais biológicos de um filho adotado, retiram-lhe a sua identidade original. Durante uma adoção legal, em contrapartida, é depositado um dossiê do bebê correspondente nas autoridades de adoção.
A adoção ilegal é castigada com uma pena de 5 anos de prisão. Depois de 20 anos, a pena é prescreve. “Apesar disso, tudo é varrido para debaixo do tapete” exclama Noordoven reprovadoramente.
Quando começou a procurar sua mãe no Brasil, em 2001, um caminho difícil o aguardava. Seus pais ficaram calados e somente fizeram um contato. As pessoas envolvidas na adoção ilegal também se calaram. Informantes desnortearam-no de propósito. No arquivo do hospital em São Paulo onde tinha nascido, Patrick encontrou mais que 100 mães possíveis. Cada ano retornou ao Brasil e continuou a sua busca. Em 2011, descobriu sua meia-irmã mais velha. Começou a matar a charada de sua origem.
Noordoven tem duas irmãs mais velhas. A mãe trabalhava como empregada doméstica e não era capaz de prover para todos os três filhos. Vivia junto com a filha mais jovem, a mais velha ficou com a tia. Dela Patrick soube que a mãe tinha voltado varias vezes ao hospital para perguntar por ele, e que muitas vezes chorava.
Vítima do tráfico de crianças
Até 1985 governou no Brasil a ditatura militar. Mulheres que não fossem apoiadas pelo pai do filho deveriam doar seu filho depois do nascimento. Noordoven crê ser uma vítima do tráfico de crianças. Seus pais adotivos doaram ao orfanato uma soma generosa. Enviaram até mesmo dinheiro para a hospitalização e o cuidado médico da mãe.
Para a doação, os pais receberam um recibo, porém a gerente do orfanato no Brasil confirmou ao Patrick que esse montante nunca tinha chegado ao orfanato. Segundo suas pesquisas a segurança de saúde brasileira assumiu os custos médicos da mãe. Fazer perguntas à mãe, Patrick já não pode porque ela faleceu em 1985. Com os pais adotivos, não está mais em contato. Depois de o responsabilizarem numa carta por sua situação difícil, eles cortaram a relação. “Me levaram um direito humano”.
Patrick não pode aceitar que a muitos adotados ilegais lhes foi causado tanta iniquidade porque pais como seus responderam apenas com silencio de gelo. Com sua ONG Brazil Baby Affair (veja a caixa de texto) Patrick apoia adotados ilegais. Ele ainda busca seu pai.
Bettina Zanni
Caixa de texto: Apoio para adotados ilegais
No final dos anos 70 e no início dos anos 80, numerosos casais da Europa e dos EUA adotaram bebês brasileiros ilegalmente. Pelo nome de Brazil Baby Affair a polícia holandesa descobriu, em colaboração com a polícia alemã, as adoções ilegais. A ONG Brazil Baby Affair, fundada em 2014 por Patrick Noordoven, com sede em Zurique apoia brasileiros ilegalmente adotados em todo o mundo e oferece ajuda às famílias originais. A associação tem o foco em pessoas que foram adotadas antes de 1999 no Brasil, e foram registrados como filhos biológicos dos pais adotivos nos países de origem deles.
Patrick Noordoven trabalha à base voluntária. Para que os clientes não precisem pagar mais eles mesmos os serviços, atualmente está procurando fundos e doadores.